domingo, 17 de junho de 2012

Uma crítica ao ensino da comunicação

Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:

Os rumos do ensino da comunicação no país. Esse foi o tema do debate ocorrido ontem, em São Paulo, no Barão de Itararé. Promovida pela entidade, além do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Socicom, a atividade contou com a participação da pesquisadora Maria Cristina Gobbi, do Ipea, e Altamiro Borges, jornalista e presidente do Barão de Itararé. A jornalista Mirlene Bezerra, também do Ipea, mediou a conversa.


Gobbi apresentou seu estudo feito para o Panorama da Comunicação e das Telecomunicações 2011/2012, publicado pelo Ipea, em que reúne dados e informações em um verdadeiro diagnóstico do ensino da comunicação no país. “Mapeamos o que está sendo feito em termos de desenvolvimento dos estudos em Comunicação no Brasil. A pesquisa buscou compreender melhor a base da formação em Comunicação no país, para examinarmos como está o ensino da área”, afirma.

A pesquisadora produziu um vasto banco de informações e números sobre as instituições de ensino, o perfil dos estudantes e a produção científica em geral. “O mapa abrange universidades e faculdades públicas, privadas, comunitárias e confessionais; cursos de graduação e pós-graduação, além de extensão universitária; periódicos científicos; grupos de pesquisa das associações científicas da Socicom, além de um levantamento dos apoios financeiros, públicos e privados, fluxo de publicações e divulgação da produção científica da área”, diz.

Segundo Gobbi, a “revolução digital” em curso é um fator de transformação radical do fazer e do pensar na comunicação. “Temos um novo cenário, no qual há interação, com o público passando a ser, também, produtor de conteúdo. Esse cenário exige novas formas de pensar a comunicação, transmetodológicas”.

Em sua avaliação, a área está cercada por desafios que eclodem em cenários diversificados, necessitando consolidação e legitimação. “Precisamos entender as fronteiras do nosso campo e consolidar o diálogo com os outros”, afirma, acrescentando que “ambientes de pesquisa têm de funcionar como centros aglutinadores de uma produção ampla na área da comunicação”.

Onde estamos e para onde vamos

Altamiro Borges reforçou a tese de Gobbi sobre o impacto da chamada revolução digital na comunicação. Em sua opinião, “a era digital abala profundamente a área, que precisa voltar seus olhos para este fenômeno e se reinventar com as transformações que ele têm realizado”. Borges, no entanto, expressou preocupação em relação à formação na área: “Como desenvolvermos, nessa área de conhecimento, um comunicador comprometido com a informação de qualidade, com a ética e a realidade social?”, indagou.

Ele apontou as mudanças na legislação da categoria jornalística, como a questão do diploma e a precarização nas condições de trabalho, como um dos problemas a serem resolvidos. “Além disso, a ausência de regulação no setor também cria um clima pouco favorável ao cumprimento da função social do comunicador”, acrescenta.

Com o endosso da pesquisadora do Ipea, Borges também criticou o caráter mercadológico do ensino da comunicação como um entrave para o desenvolvimento da área. Para ele, o setor privado do ensino de comunicação tem uma visão extremamente mercadológica, buscando estritamente o lucro, enquanto o ensino público carece de investimentos.

Borges afirma que há um “vazio ético no setor” e o comunicador está distante do interesse público. “Em minha opinião, a formação vai no caminho inverso da ética e do interesse público. Fusão da notícia e do entretenimento; confusão de jornalismo com assessoria de imprensa; concentração de propriedade no setor; crescente manipulação com razões políticas e comerciais. Estamos formando jornalistas sem senso crítico e sem senso ético”, diz.

Os encontros do Ciclo de Debates Panorama da Comunicação e Telecomunicações discutem oPanorama da Comunicação e das Telecomunicações 2011/2012, lançado pelo Ipea, em debates semanais. Os encontros têm transmissão ao vivo pelo www.anid.com.br/debate, com direito a chat e participação do internauta.

Confira a agenda completa e programe-se:

-30 de maio: Regulação da Comunicação e Telecomunicações, com Monique Menezes (bolsista do Ipea); Venício Lima (professor aposentado da UnB) e Marco Schäffer (assessor da presidência do Ipea).

-6 de junho: Comunicação e Telecomunicações nos países BRICS e Mercosul, com Irene Gurgel do Amaral (bolsista do Ipea); Marcos Dantas (professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e João Claudio Garcia (jornalista do Ipea)

-13 de junho: Mapa cognitivo: Ensino da Comunicação no Brasil, com Maria Cristina Gobbi (bolsista do Ipea); Igor Fuser (coordenador do curso de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero) e Mirlene Bezerra (jornalista do Ipea).

-20 de junho: Serviços, aplicativos e conteúdos digitais multiplataformas – Avanços no campo público da televisão digital, com Cosette Castro (bolsista do Ipea); Diogo Moisés (assessor da Empresa Brasil de Comunicação/TV Brasil e Coletivo Intervozes) e Fernanda Carneiro (jornalista do Ipea)

-4 de julho: Perspectivas e análises das tendências profissionais e ocupacionais para a área de comunicação no Brasil, com Andréa Fernandez (bolsista do Ipea); Marcia Quintanilha (diretora da Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj) e Pedro Cavalcanti (jornalista do Ipea).

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